A presidenta Dilma Rousseff sancionou a lei do feminicídio nesta
segunda-feira (09/03). O projeto de lei foi aprovado pela Câmara dos Deputados
na última terça-feira (03/03). Em seu discurso, a presidenta Dilma condenou
veementemente o machismo instaurado na sociedade há séculos e lembrou que
"15 mulheres são mortas por dia no Brasil. As mortes são pelo simples fato
de ser mulher, uma questão de gênero".
A presidenta falou, ainda, sobre as 500 mil mulheres que são vítimas de
estupro no país e sobre o fato de apenas 10% dos casos chegarem ao conhecimento
das autoridades. "As mulheres muitas vezes têm medo e vergonha de
denunciar", disse.
"Esses números nos chocam e mostram brasileiras submetidas a uma
violência inaceitável, que percorre em todas as classes sociais, nas ruas, no
trabalho, nas escolas e, sobretudo, dentro de casa", afirmou Dilma.
A presidenta também condenou a violência contra os negros e a população
LGBT e afirmou que "o Brasil é uma terra generosa e não deve aceitar
jamais ser a terra de intolerância e do preconceito".
Ainda em seu pronunciamento, Dilma deixou bem claro que o papel do
Estado deve ser sempre defender a integridade da mulher. "Em briga de
marido e mulher, nós achamos que se mete a colher sim. Principalmente se
resultar em assassinato", afirmou.
A presidenta exaltou as políticas que visam o empoderamento feminino, citou
a Lei Maria da Penha e lembrou que, apesar do machismo, os homens devem sempre
lembrar que vieram de uma mulher.
"Quando tratamos a mulher como protagonista, o que queremos é dar
poder a ela. Por isso no Bolsa Família é preferencialmente a mulher que recebe
o cartão. No Minha Casa Minha Vida a mulher tem preferência também por ter a
propriedade no seu nome", afirmou a presidenta.
Por fim, Dilma lembrou que parte desse empoderamento, além da
independência financeira, é o fomento à capacitação profissional. Segundo dados
apresentados por ela, no Pronatec, 58,4 milhões de formandos são mulheres; e,
nas bolsas do Prouni e do Fies, o sexo feminino é responsável por 52% e 58% dos
contratos, respectivamente.
A ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora
Menicucci, também discursou no evento e exaltou a sanção da Lei, além de
ressaltar a sua importância para que haja uma redução desse tipo de crime.
"O feminicídio é a morte violenta por conta do gênero, é uma crime de
ódio", explicou.
Menicucci disse que o Brasil é o sétimo país com o maior número de
casos de violência contra a mulher. Além disso, a ministra detalhou que, na
maioria dos casos, os praticantes do delito são seus companheiros, ex-parceiros
ou filhos.
A ministra também elogiou a articulação da bancada feminina no
congresso e lembrou que a Lei Maria da Penha, segundo dados do Ipea, diminuiu
em 10% os assassinatos de mulheres em suas residências.
"A partir de hoje, com a Lei do Feminicidio, as brasileiras
conquistam mais um instrumento para garantir uma vida livre da violência",
complementou Menicucci.
Mais de 800 pessoas participaram da cerimônia de sanção no salão nobre
do Palácio do Planalto. Entre elas, mulheres de movimentos de mulheres do
campo, de pequenos agricultores, do Poder Judiciário, de embaixadas,
parlamentares e diversos ministros.
A presidenta Dilma Rousseff dedicou o ato de sanção às servidoras da
SPM Rosangela Rigo e Lurdinha Rodrigues e à consultora Célia Scanfella,
falecidas no último dia 14 de fevereiro, em um acidente de carro.
Feminicídio
O assassinato de mulheres pela condição de serem mulheres é chamado de
"feminicídio" - sendo também chamado de “femicídio” ou “assassinato
relacionado a gênero”.
O termo se refere a um crime de ódio contra mulheres, justificado por
uma história de dominação da mulher pelo homem e estimulado pela impunidade e
indiferença da sociedade e do Estado.
O feminicídio abrange desde o abuso emocional até o abuso físico ou
sexual. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, esse crime envolve o
assassinato intencional de mulheres apenas por serem mulheres.
Na América Latina, México, Chile e Argentina já incorporaram o crime de
feminicídio às respectivas legislações penais. No Brasil, O projeto foi
elaborado pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Violência
contra a Mulher.
A proposta aprovada estabelece que as penas podem variar de 12 anos a
30 anos de prisão, a depender dos fatores considerados. Se forem cometidos
crimes conexos, as penas poderão ser somadas, aumentando o total de anos que o
criminoso ficará preso, interferindo, assim, no prazo para que ele tenha
direito a benefícios como a progressão de regime
O projeto prevê ainda aumento da pena em um terço se o crime acontecer
durante a gestação ou nos três meses posteriores ao parto, se for contra
adolescente menor de 14 anos ou adulto acima de 60 anos ou ainda pessoa com
deficiência, e se o assassinato for cometido na presença de descendente ou
ascendente da vítima.
Segundo dados apresentados pela CPMI, entre 2000 e 2010, 43,7 mil
mulheres foram assassinadas no Brasil. Desse total, mais de 40% das vítimas
foram assassinadas dentro de suas casas, muitas pelos companheiros ou
ex-companheiros. Essa estatística colocou o Brasil na sétima posição mundial de
assassinatos de mulheres.
Crimes hediondos
O crime é considerado hediondo quando o delito em questão é
caracterizado como repugnante, bárbaro ou asqueroso. Nesses casos, não é
possível conceder anistia, graça, indulto e fiança.
Em casos de crimes tipificados como hediondos, o cumprimento da pena
estipulada, e sua possível redução, são realizados de maneira diferente.Segundo
a Lei nº 8.072, "a pena por crime previsto neste artigo será cumprida
inicialmente em regime fechado".
Além disso, a progressão de regime só poderá ocorrer após o cumprimento
de dois quintos da pena, em caso de ser a primeira incidência do infrator, e de
três quintos, se houve reincidência.
Fonte: Portal Brasil
Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
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