terça-feira, 5 de maio de 2015

Esfinge

Tuas pupilas alaga
Não sei que acerba ternura,
Cuja luz cruel me afaga,
Cujo afago me tortura.

Unge-te o seio moreno
Um perfume sufocante,
Suave como um calmante,
Pérfido como um veneno.

Freme-te a alma fatal
No frágil corpo nervoso,
Como um filtro perigoso
Numa prisão de cristal.

Para estancar os desejos,
Que teu sangue tantalizam,
Teus lábios prodigalizam
Dentadas por entre beijos.

Com sarcasmos me apunhalas;
Depois, as feridas cruas
Ameigas com a luz que exalas
Dos teus olhos – negras luas.

Tua palavra me é dura,
Às vezes, pelo sentido,
E doce pela brandura
Com que me trina no ouvido.

Há uma alma que suspira
Em cada ponto de espaço
Quando caminhas: teu passo
Murmura como uma lira.

No movimento discreto
Revelas, por entre as gazes,
Todo um poema correto
Escrito em verso sem frases.

Os teus lençóis apaixonas
Com a gentileza, que apuras
Nas langorosas posturas
Em que o teu corpo abandonas.

Dos primores, de que és feita,
A nenhum dou primazia:
É do conjunto a harmonia
Que os meus sentidos sujeita.

E eu te amo, beleza fátua,
Minha perpétua loucura,
Como o verme a flor mais pura,
E o musgo a mais bela estátua!

Teófilo Dias (1854-1889)



Nasceu em Caxias, no Estado do Maranhão. Realizou os estudos preparatórios em São Luís, e esteve temporariamente no Pará. Mudou-se para o Rio de Janeiro, onde a princípio leciona, depois se emprega na Secretaria da Agricultura.

Obtendo colocação no Correio de São Paulo, em 1877 matriculou-se na Academia de Direito. Foi professor e diretor da Escola Normal de São Paulo e deputado provincial. Sobrinho do grande poeta romântico Gonçalves Dias. Obras: Flores e amores (1874); Lira dos verdes anos (1876); Cantos tropicais (1878); Fanfarras (1882); A comédia dos deuses (1887).

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